Heracles
Ninguém sabe
Degustar
um segredo.
Ele tem a cara
De um Câncer.
Ele tem o cheiro
De um medo.
Eu verto silêncios
E aromas de baunilha
Nesses dias entristecidos.
Eu perambulo
Pelos endereços
Inábeis
Dos tempos felizes.
Eu sofro
De amores voláteis
Desandando
A maionese dos magos.
Flor de um asfalto retrátil
Devorador de pernas
dóceis
E sonhos contidos.
Esvoaço a vida
Se esvoaçada
Deixa-se.
Falo a verve
Descontrolada
Dos abismos.
Amo a febre
Dos meus sentidos:
Voz embargada.
Desavisado sorrio
Os dias me dilaceram
Na sorte que anunciam.
Dobro a esquina
Cruzo o rio
Sangro desaparecido.
As mãos prenunciadas
São a febre
Das horas enraivecidas.
O olho inerte
É o remorso
Do tempo vencido.
A outra margem
O rosto da correnteza
cortada.
Palidez é a cor
mais selvagem
a mim permitida.
Morrer centenas
De vezes e não
Morrer sequer um dia:
Trançado de vozes
Calando
As pedras velozes.
Do livro Em um mapa sem cachorros